segunda-feira, 23 de março de 2015

Absurdistão

Recebi tal como aqui publico. 
Desta vez fui preguiçoso não fui o autor mas identifico-me totalmente  com a matéria
Aqui vai. Veiculada por Henrique Antunes Ferreira e assinada Adalberto Aguiar. 
Força.
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Vivemos no ABSURDISTÃO?

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·        Um alto quadro das Polícias Secretas, confirma publicamente que fez escutas a cidadãos, SEM QUALQUER COBERTURA LEGAL. Agiu segundo ordens superiores, com intuitos políticos e com intuitos pessoais (casos de infidelidade).

·        Um antigo alto quadro das Polícias de Investigação Criminal, montou uma REDE ORGANIZADA DE ROUBOS, utilizando rufias de uma claque de futebol e fardamentos da polícia. Especializaram-se em ROUBAR IDOSOS SOLITÁRIOS.

·        Um Comandante de Polícia (SEF) e vários outros altos quadros do Governo Central criaram uma REDE DE CORRUPÇÃO E EXTORSÃO no sistema de atribuição dos chamados “Vistos Gold”.

·        Um grupo de Altos Dirigentes da Segurança Social montaram um ESQUEMA DE CORRUPÇÃO para a emissão de declarações falsas (lesando directamente o Estado e as contas públicas).

·        Um grupo de Médicos, Farmacêuticos e quadros superiores de empresas farmacêuticas e do Governo Central, montaram uma REDE DE FALSIFICAÇÃO de receitas por forma a roubar o Estado.

·        Um primeiro-ministro NÃO PAGOU AS SUAS CONTRIBUIÇÕES e um ministro do seu governo apressou-se a culpar os serviços do seu próprio ministério sobre o tema.

·        Um antigo primeiro-ministro é acusado de estar envolvido numa REDE DE CORRUPÇÃO E CONSPIRAÇÃO,no mundo dos negócios e da política.

·        Um Banqueiro e os Gestores que o acompanharam, ao longo dos anos, montou um esquema  com a conivência do regulador (Banco de Portugal), que arruinou várias centenas de cidadãos. São  chamados a uma Comissão Parlamentar de Inquérito e  afirmam que NÃO SABEM, NÃO SE LEMBRAM ou, simplesmente, NÃO LHES APETECE RESPONDER.

O pior: TUDO isto aconteceu no MESMO PAÍS, no MESMO ANO.

E, NADA acontece. Falamos sobre isto tudo. Comentamos isto tudo. Achamos isto tudo um ABSURDO.

Esquecemos que o verdadeiro ABSURDO é deixarmos tudo isto acontecer!

É caso para interrogar: este  País não começa a transformar – se num ABSURDISTÃO?


assinada por - Adalberto Aguiar


segunda-feira, 16 de março de 2015

Beirais. Deus, Pátria e Família.

Beirais. Pois.
Vão-me matar, mas eu digo o que penso. 
Aquilo foi bem pensado. A ideia era boa, de comédia à portuguesa. Quase consegue.
Mas não é inocente. Lembra o meu livro da 4ª classe. Pobres mas alegres. 
E soa sobretudo a uma espécie de Pátio das cantigas de sacristia. 
Toda a característica e carisma de popularucho, bem urdida; mas recobrada e encenada pelo seminário da Brejenja. O senhor prior traja ainda à antiga, com cabeção; e dá bons conselhos sempre. Alguns fraquejaram na vocação, bons rapazes mas perderam-se para a sotaina. Nanja ele. 
Para mostrar que é "progressista" a história desenvolve um puto imbecil que quer ser estilista, um mecânico sempre teso, mas que nunca vemos debaixo de um carro a trabalhar, uns GNR de opereta, uns namoros que alimentem a novela. Um velho e enigmático comunista; ainda exemplo moral para todos. E uns desamores que vão alimentando o desencontro.
Não sei se me falta alguém. Falta a beata, as lojas de cenário amador, as adolescentes parvinhas e as sócias de um turismo da treta. Todas muito Cascais. 

Os maniqueísmos do costume. E a moral de pacotilha. No fundo todos bonzinhos e gente conformada.
Os trambiqueiros, coitados - imitação grotesca de Laurel & Hardy, os eternos Bucha e Estica. Mas tb eles uns pobres coitados, - uns tesos, pudera - sem defuntos verdadeiramente voluntários para se enterrar! Uma chatice.
Um sitio tão saudável e bonito que o negócio, obviamente, anda por baixo. 

Arranjem um morto, caraças! 
Até porque ainda são, de longe, o melhor momento, diria eu.
Há também uma rádio local, onde se perora sobre o óbvio e se dão ensinamentos construtivos. Plágio descarado dos finais esotérico filosóficos daquela outra série passada no Alaska que não me lembro agora o nome.
Resultado prático - Totus felices. Até os figurantes, suponho. Que hoje as reformas são uma miséria e assim sempre se ganham uns pózes.
Interpretações entre o bom, o assim assim, o péssimo e o totalmente incredível.
Um cheiro a água benta de século passado, insuportável. Tutelar e caucionante. Directiva e preconceituosa. Não sou católico, mas de tanto se querer alçar a dominante, conheço - assim de "mão beijada", caso para dizer...- no mínimo dez padres (que, supostamente... o são) e que se ririam a morrer deste ambiente fundamentalista-cristão. Sempre bonzinho e afinado.
Salvam-se as vacas e as cabras. Algumas criações dos proprios actores; a dupla de gatos pingados, o barbeiro, a beata, a mulher do Mourato, enfim uns momentos q agarram. E o Carvalhal; que deve ser bonito e simples, terra pacata, suponho. Ah! E o discreto evocar das velhas sociedades recreativas que tanto fizeram pela Cultura neste velho e desmotivado Portugal.
Beirais. Pois. Tenho um sentimento por esta serie de uma cumplicidade justificada.

Que remédio. Estava internado e engolia como podia. Hoje espreito in memoria desse tempo de vagar e de esperança progressiva. Ria-me sobretudo com os gags que não resultavam em piada nenhuma. Uma escrita deplorável e indizível, por vezes. Pobres actores a terem de debitar tal texto.
Eu explico. - Via no hospital, pois só havia 4 canais no quarto; e nos outros, chiça, davam só noticiários de hora e meia! Era demais; duravam ate aos meus comprimidos da noite. 
Mas tal overdose noticioso-criminal provoca-me bertoeja-alergologica-assincronistica com desconjuntamento varicelico. Não posso - ordens do médico. 
VC não stresse, homem. Recupere. 
E eu ficava caladinho, a roer futuros.
Beirais? Só me vem à cabeça o António Silva às voltas no túmulo. Isso eu sei.
Ah! O que eu pagava para ele endemoninhar aquilo tudo!
E ver aquele padre vestir-se como gente normal. Isso também.

domingo, 8 de março de 2015

Mulher

Mulher
Quero hoje desabotoar-te o peito. Centro de vida e panteísmo cromático de existir.
Despir-me de mim em ti.
E contar-te deste sonho imenso em que me fazes dia a dia reviver.
Não por ser um dia especial, inventado pelos imbecis e oportunistas, pois para mim todos os dias te cultuo. Mas porque hoje, - em todo o mundo onde isso for possível - bem ou mal, por instituição ou memória de sempre, há um direito surdo que circula.
Em muitos sítios, ainda clandestino; mas sedimentando-se secreto, envolvente, enraivecido, e merecido. E lá no mais fundo íntimo do teu sentir, sabes que pensamos todos hoje, por muito estúpido e farisaico que isso seja - e é...- um pouco mais em ti.
Nasceste mulher e ainda bem. Nunca saberei o que tal coisa seja.
Homem reiterado e breve, apaixonado e destruidor, construtor e desconstrutor de efémeros, estou condenado a nunca saber, nunca entrar por dentro do âmago de tal mistério; do paradigma de um pensar gineceu.
Ficarei pois, sempre à porta desse entendimento. Muito mais pobre, portanto. E ficarei na fímbria desse gozo, sempre aquém, na fronteira de tal espanto. Olhando, como uma criança gulosa numa montra impossível, a curva das tuas ancas, o recorte magnifico e guloso dos teus lábios, o balouçar do peito, a graça do andar, o charme de um simples cruzar de pernas com a elegância que nunca saberei.
Tu sabes.
És o tesão do universo, o motor da vida, a danação das almas, o requebro da perdição, o carinho da eternidade, a volúpia dos dias. O meu orgasmo ainda.
Tu sabes.
Sem ti, o planeta ficava frouxo, sem vida, sem graça nem alcance; e até sem amanhã.
És também - além dessa fisicidade deslumbrante que te distingue como emblema - a diva de intuição, a verdadeira diplomata dos dias, a inteligência à flor da pele, a seguradora do espaço, a gestora do mundo. E, para isso, nunca deixas de ter nem saber, nem encanto, nem idade.
Sim eu sei - nós pensamos que gerimos o planeta.
Mas soçobramos ao primeiro gotejo de uma lágrima, ao sopro de uma razão, ao desabafar discreto de um suspiro, ao indelével gesto de um enfado, ao sabedor momento em que nos fazes ver um prisma que nunca pensáramos. Por vivermos outro planeta e outra loucura.
Quero, por isso, enraivecidamente, abraçar-te; cheio de ciúmes de ti.
Quero - sim, acho que eternamente desejarei - a tua graça e o teu saber.
Morro de perceber este nunca te alcançar. Enraiveces-me por isso. Dai a minha eterna e breve, mas breve e eterna, violentíssima ternura.
Velho sátiro, já sem graça nem encanto, o corpo imenso a acontecer. Este corpo que morreu e ressuscitou, talvez por ti e para ti, no breviário dos dias repetidos, no adiamento do inevitável, mas ainda no tudo por viver.
Cantei-te quanto pude. Descrevi-te. Poetei-te. Esmaguei-te de calor. Amarrei-te em mim. Rasguei-te a pele.
E no percurso, magoei-me, também eu, - muito e demais...- nessa luta pela escarpa imensa de teu sempre difícil adivinhar.
Apaixonei-me para sempre pela imagem que emanas; e com que me conquistas um pouco mais todos os dias. Neste in-alcançar todas as musas que desejaria, todos os excessos que continuo sonhando. Todas as maldades e saberes com que a espaços, muito a espaços, te alcancei.
Recolho-me um momento e rezo por ti. Por todas as mulheres do mundo. Tanto quanto um pagão pode rezar. E logo me recolho de novo.
Sei-me ridículo por tanto te admirar. Controverso, repetido, chato. Humilde e truculento. Bravio e dominante. Indomado e masculino. Sedento. Pudera.
Ficarei buscando para sempre a explicação inexplicável do teu encanto.
E, apesar de tudo, parto nessa busca todos os dias.
E sei, aqui para nós, que nunca, nunca, nunca a alcançarei.