quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Carta aberta a um assassino da Alma Portuguesa


Há penas previstas para as ofensas corporais. Para os homicídios. Para o roubo; para o prejuízo ou dano psicológico. Para quase tudo o que a mente maldosa do homem vai inventando e judiando aos outros. Torna-se contudo, bem mais difícil definir as coisas e instruir processo para os danos da alma.
Ora Vossência assassinou precisamente a alma da Língua Portuguesa. Inocente e limpa. Pura e linda. Planetária e expressiva. Um dos valores que da lei da morte nos ia libertando, pois para lá dela nos continua.
Vossência criou um aborto putativamente correctivo. Mudou uma língua das mais belas e espalhadas do planeta colocando-a num supermercado de ventoinhas e tornou-a uma lotaria sem sentido.
Vossência não para para pensar. (Se não perceber o que eu escrevi, pergunte a si mesmo se tal redacção sem acento faz algum sentido).
Vossência avança e esgrime que o acordo é um benefício por não sei quê, tem vantagens que ninguém vê, urgência por vá-se lá saber. Que moderniza coisas que o não pediram, se impunha desde não sei quando, unifica países que não sei se, esclarece dúvidas que não existiam e resolve questões que não sei como.
Mentira. Oportunismo parvo e espúrio. Pedantismo filólogo de terceira escolha, gosto zero, sensibilidade casteleja e distante, razão desarrazoada e sem sentido, loucura arsenalista e arrasadora.
Vossência assassinou a língua portuguesa. Vossência é, portantissimamente, um criminoso.
Vossência - e o grupo de bestas que o rodeia - flecharam mortalmente o peito puro e terno da Ala dos Namorados; os que pela Língua dão a cara, o peito e a paixão. Coisa que Vossência nunca entenderá. Mas lutamos com armas desiguais, pois Vossência tem os exércitos do poder nesta justa, - onde, de justa, nossa causa é bem mais justa.
Continue a espetar inocentes espectadores, continue a fazer recessões nas recepções; e imponha redassões nas redacções. Que tal ato o ate no acto de malfazer e espalhar o desgosto e impropério. Que lhe perdoem as crianças de hoje e do futuro tudo o que Vossência rasgou de todos nós - sem nenhuma necessidade - da história, da sensibilidade e da alma da Lingua portuguesa.
Vossência, peço perdão, entra na Historia, sim.
Passa a estar ao nível de um Conde Andeiro. Um Miguel de Vasconcelos, um Alves dos Reis.
Vossência provoca-me um nojo maior. Que sinto em nome de uma pátria que tinha na sua Língua um expoente de justeza, criatividade, elegância, riqueza expressiva e aristocracia latina que lhe foram retiradas. A velha Língua Portuguesa foi ferida de morte por uma iniciativa casteleja, malsã e injustificada. Vossência não sai em glória deste feito. Nem fermoso nem seguro.
Repito: - sinto nojo. Nojo, sim; em nome de todo o universo lusófono que assim sofre tal desfaçatez e improviso. Nojo, em nome da tristeza que os homens de Cultura deste país sentem, ao serem forçados a ver seus filhos e netos a escrever em dialecto de Malaca.
Mas terei de sentir esse nojo o resto da minha vida?
Pedro Barroso, Português, analfabeto
Autor, compositor e poeta, membro da Soc. Port, Autores
ex aluno de Latim do Prof. Vergílio Ferreira
Co autor de obra registada com o Prémio Nobel José Saramago

Um comentário:

  1. Ver no "blogue" O ALMADRAQUE FOFINHO"

    2016: O ANO DA MORTE DO ASSIM CHAMADO "ACORDO ORTOGRÁFICO"

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