sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Srª da Agonia

Com as eleições das terras entramos no frenesi da culpa e da desculpa.
O fim do tempo, sem ter tido tempo para preparar o tempo.
A obra - cinquenta vezes prometida, devida e subsidiada mas que foi desviada por... compromissos que, se colocaram à frente de; mais imperiosos porque, comandados por, revelando interesses que, hierarquias de, conveniências por, empresas que, prioridades urgentes, calendário assim. E nada aconteceu.
Mas desta vez... caramba! Logo no primeiro mês. Prometo!
Nao sei quê de dez réis de paciência para ter de ouvir o povo; ai!... ir almoçar ao Xico, ao Zé, ao Toino, ao Manel, à Ana, à Rita, ao Couve e ao Bacalhau. A Brejenjas, ao Massacouco, ao Carreiro das Negras, ao Porto dos Anzóis, que fica lá tao longe e nao tem estrada sequer...
Que raiva. Que cansaço. Uma chatice, o povo. Uma pessoa ter de depender desta gente. Ter de dividir a campanha a tempo de prometer o tapete novo para o estádio, o ginásio publico no jardim para os tarados da musculação, o parque dos poetas para a curva do rio, o anfiteatro para os artistas e a escola nova para as criancinhas. O passadiço para os ciclistas. O parque para as avezinhas - não sei quê ecologia, porque não sei quê, mas convém... Chiça.
Nao esquecer arranjar a ponte que pode cair e ir ao futebol com cachecol ao pescoço. Um ar popular. sardinhas e vinho tinto.
Farturas. Boa ideia. - Muitas farturas.
Nao esquecer afagar e beijar 100 criancinhas/dia sff, a propósito. Prometer o museu já 30 vezes prometido, garantir baixar o imi, as campas, o preço da nabiça e do tomate. A burocracia municipal, o preço do melão. O mau cheiro das ribeiras. Melhorar o mercado e pôr as varinas todas finas de balandrau de seda e lantejoula.
A feira dos queijos e caracóis precisa de melhor animação convida-se o Gervásio da gaita, prometido. O chafariz tem de ser arranjado e pintado, prometido, A rua de cima devia ser em baixo e a de baixo devia ir para trás. prometido. Um aeroporto para cada cidade, um presidente para cada ideia, uma piscina para cada bairro. prometido. Uma ideia para cada parede rua beco. Botas e jeans para visitar os pobres, mas podem-me chamar Salomé.
Eu estou a olhar os chouriços e o caldo verde, ouço com atenção as explicações culinárias da Maria dos tachos, mas vou espreitando pelo rabo do olho se o cameraman me está a filmar e tenho de improvisar qqr coisa sobre a carestia, a habitação, o passadiço pedonal, o resultado ideal, o reflexo das freguesias na governação e a influencia do tempo no futebol de praia e os reflexos das missas na afluência às urnas.
Carnaval completo na feira do improviso e da promessa. Uma mao cheia de nada, outra de coisa nenhuma. Olha do que eu me livrei. Beijos e apertos.
Os meus calos e padecências já nao aguentavam isto.
Sim. Eu sei. Estou a ser injusto.
Haja homens e mulheres de bem a aguentar a parada, para ocupar os sítios certos e merecidos. Apareçam. Todos.
Acredito na boa generosidade de muitos candidatos genuinamente interessados em fazer o melhor para a sua Terra. Bem Vindos do fundo do coração.
Mas nao lhes invejo a tarefa. É preciso vontade, coragem, alma, saúde e temperamento para isto.
Têm de enfrentar, queiram ou não, esta feira insana, apalhaçada, cruel e quantas vezes, injusta.
E para cúmulo, sentir o peso dos olhares da vizinhança, na tal 2ª fª a seguir às urnas. 
Uma espécie de dia de  finados 
fulgores 
Para mim, é o carnaval da promessa garantida;
- a cansativa feira da Agonia.

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