segunda-feira, 16 de março de 2015

Beirais. Deus, Pátria e Família.

Beirais. Pois.
Vão-me matar, mas eu digo o que penso. 
Aquilo foi bem pensado. A ideia era boa, de comédia à portuguesa. Quase consegue.
Mas não é inocente. Lembra o meu livro da 4ª classe. Pobres mas alegres. 
E soa sobretudo a uma espécie de Pátio das cantigas de sacristia. 
Toda a característica e carisma de popularucho, bem urdida; mas recobrada e encenada pelo seminário da Brejenja. O senhor prior traja ainda à antiga, com cabeção; e dá bons conselhos sempre. Alguns fraquejaram na vocação, bons rapazes mas perderam-se para a sotaina. Nanja ele. 
Para mostrar que é "progressista" a história desenvolve um puto imbecil que quer ser estilista, um mecânico sempre teso, mas que nunca vemos debaixo de um carro a trabalhar, uns GNR de opereta, uns namoros que alimentem a novela. Um velho e enigmático comunista; ainda exemplo moral para todos. E uns desamores que vão alimentando o desencontro.
Não sei se me falta alguém. Falta a beata, as lojas de cenário amador, as adolescentes parvinhas e as sócias de um turismo da treta. Todas muito Cascais. 

Os maniqueísmos do costume. E a moral de pacotilha. No fundo todos bonzinhos e gente conformada.
Os trambiqueiros, coitados - imitação grotesca de Laurel & Hardy, os eternos Bucha e Estica. Mas tb eles uns pobres coitados, - uns tesos, pudera - sem defuntos verdadeiramente voluntários para se enterrar! Uma chatice.
Um sitio tão saudável e bonito que o negócio, obviamente, anda por baixo. 

Arranjem um morto, caraças! 
Até porque ainda são, de longe, o melhor momento, diria eu.
Há também uma rádio local, onde se perora sobre o óbvio e se dão ensinamentos construtivos. Plágio descarado dos finais esotérico filosóficos daquela outra série passada no Alaska que não me lembro agora o nome.
Resultado prático - Totus felices. Até os figurantes, suponho. Que hoje as reformas são uma miséria e assim sempre se ganham uns pózes.
Interpretações entre o bom, o assim assim, o péssimo e o totalmente incredível.
Um cheiro a água benta de século passado, insuportável. Tutelar e caucionante. Directiva e preconceituosa. Não sou católico, mas de tanto se querer alçar a dominante, conheço - assim de "mão beijada", caso para dizer...- no mínimo dez padres (que, supostamente... o são) e que se ririam a morrer deste ambiente fundamentalista-cristão. Sempre bonzinho e afinado.
Salvam-se as vacas e as cabras. Algumas criações dos proprios actores; a dupla de gatos pingados, o barbeiro, a beata, a mulher do Mourato, enfim uns momentos q agarram. E o Carvalhal; que deve ser bonito e simples, terra pacata, suponho. Ah! E o discreto evocar das velhas sociedades recreativas que tanto fizeram pela Cultura neste velho e desmotivado Portugal.
Beirais. Pois. Tenho um sentimento por esta serie de uma cumplicidade justificada.

Que remédio. Estava internado e engolia como podia. Hoje espreito in memoria desse tempo de vagar e de esperança progressiva. Ria-me sobretudo com os gags que não resultavam em piada nenhuma. Uma escrita deplorável e indizível, por vezes. Pobres actores a terem de debitar tal texto.
Eu explico. - Via no hospital, pois só havia 4 canais no quarto; e nos outros, chiça, davam só noticiários de hora e meia! Era demais; duravam ate aos meus comprimidos da noite. 
Mas tal overdose noticioso-criminal provoca-me bertoeja-alergologica-assincronistica com desconjuntamento varicelico. Não posso - ordens do médico. 
VC não stresse, homem. Recupere. 
E eu ficava caladinho, a roer futuros.
Beirais? Só me vem à cabeça o António Silva às voltas no túmulo. Isso eu sei.
Ah! O que eu pagava para ele endemoninhar aquilo tudo!
E ver aquele padre vestir-se como gente normal. Isso também.

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