domingo, 8 de março de 2015

Mulher

Mulher
Quero hoje desabotoar-te o peito. Centro de vida e panteísmo cromático de existir.
Despir-me de mim em ti.
E contar-te deste sonho imenso em que me fazes dia a dia reviver.
Não por ser um dia especial, inventado pelos imbecis e oportunistas, pois para mim todos os dias te cultuo. Mas porque hoje, - em todo o mundo onde isso for possível - bem ou mal, por instituição ou memória de sempre, há um direito surdo que circula.
Em muitos sítios, ainda clandestino; mas sedimentando-se secreto, envolvente, enraivecido, e merecido. E lá no mais fundo íntimo do teu sentir, sabes que pensamos todos hoje, por muito estúpido e farisaico que isso seja - e é...- um pouco mais em ti.
Nasceste mulher e ainda bem. Nunca saberei o que tal coisa seja.
Homem reiterado e breve, apaixonado e destruidor, construtor e desconstrutor de efémeros, estou condenado a nunca saber, nunca entrar por dentro do âmago de tal mistério; do paradigma de um pensar gineceu.
Ficarei pois, sempre à porta desse entendimento. Muito mais pobre, portanto. E ficarei na fímbria desse gozo, sempre aquém, na fronteira de tal espanto. Olhando, como uma criança gulosa numa montra impossível, a curva das tuas ancas, o recorte magnifico e guloso dos teus lábios, o balouçar do peito, a graça do andar, o charme de um simples cruzar de pernas com a elegância que nunca saberei.
Tu sabes.
És o tesão do universo, o motor da vida, a danação das almas, o requebro da perdição, o carinho da eternidade, a volúpia dos dias. O meu orgasmo ainda.
Tu sabes.
Sem ti, o planeta ficava frouxo, sem vida, sem graça nem alcance; e até sem amanhã.
És também - além dessa fisicidade deslumbrante que te distingue como emblema - a diva de intuição, a verdadeira diplomata dos dias, a inteligência à flor da pele, a seguradora do espaço, a gestora do mundo. E, para isso, nunca deixas de ter nem saber, nem encanto, nem idade.
Sim eu sei - nós pensamos que gerimos o planeta.
Mas soçobramos ao primeiro gotejo de uma lágrima, ao sopro de uma razão, ao desabafar discreto de um suspiro, ao indelével gesto de um enfado, ao sabedor momento em que nos fazes ver um prisma que nunca pensáramos. Por vivermos outro planeta e outra loucura.
Quero, por isso, enraivecidamente, abraçar-te; cheio de ciúmes de ti.
Quero - sim, acho que eternamente desejarei - a tua graça e o teu saber.
Morro de perceber este nunca te alcançar. Enraiveces-me por isso. Dai a minha eterna e breve, mas breve e eterna, violentíssima ternura.
Velho sátiro, já sem graça nem encanto, o corpo imenso a acontecer. Este corpo que morreu e ressuscitou, talvez por ti e para ti, no breviário dos dias repetidos, no adiamento do inevitável, mas ainda no tudo por viver.
Cantei-te quanto pude. Descrevi-te. Poetei-te. Esmaguei-te de calor. Amarrei-te em mim. Rasguei-te a pele.
E no percurso, magoei-me, também eu, - muito e demais...- nessa luta pela escarpa imensa de teu sempre difícil adivinhar.
Apaixonei-me para sempre pela imagem que emanas; e com que me conquistas um pouco mais todos os dias. Neste in-alcançar todas as musas que desejaria, todos os excessos que continuo sonhando. Todas as maldades e saberes com que a espaços, muito a espaços, te alcancei.
Recolho-me um momento e rezo por ti. Por todas as mulheres do mundo. Tanto quanto um pagão pode rezar. E logo me recolho de novo.
Sei-me ridículo por tanto te admirar. Controverso, repetido, chato. Humilde e truculento. Bravio e dominante. Indomado e masculino. Sedento. Pudera.
Ficarei buscando para sempre a explicação inexplicável do teu encanto.
E, apesar de tudo, parto nessa busca todos os dias.
E sei, aqui para nós, que nunca, nunca, nunca a alcançarei.

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