segunda-feira, 23 de maio de 2016

2 parábolas paralelas


1 - num filme anos 70, de Lina Wertmuller - salvo erro, "filme de Amor e anarquia" - um campónio (Giancarlo Gianninni, numa criação excepcional, premio de interpretação no Festival de Cannes) vem para Roma c o radical e altruista proposito de "matar Mussolini".
Puro de alma e habitos tradicionais, é com desgosto que, nos entretantos da trama, se apaixona, no bordel de refugio, por uma das profissionais. Fazendo das tripas coração, enfim...aceita q ela viva a sua vida dissoluta.
Incauto e ingenuo, porém, descobre, logo após, q afinal, ela não é mulher, mas sim um travesti de bastante sucesso. Todos os seus valores sao abalados. Mas o amor apesar de tudo, vence; e continua apaixonado pela pessoa.
Contudo, o destino reserva-lhe uma surpresa ainda maior; afinal, tal paixao nao era mais q o seu proprio irmão, q deixara a terra, ainda criança, em busca de oportunidades na cidade grande.
Tornava-se assim bastante dificil superar tao grandes "discrepâncias e acidentes"
E um longo, fraternal e comovido abraço selou o reencontro; embora, obviamente, convertesse em definitivamente impeditivo tao prolixo e desconforme evoluir amoroso.
2 o homem prometia seriedade e convicção. Com o seu sotaque levemente sibilante de advogado de provincia, subiu escalões de augusta truculência e notoriedade institucional. Saborosas e inesperadas catilinárias invectivaram sucessivamente uma Ministra da Justiça abúlica e incrédula. O q eu me ri algumas vezes c a cara da espantada senhora, perante a desfaçatez impia de tais discursos.
Muita gente se reviu na independencia, destemor e desejo de diferença. O espaço politico, se calhar, até existia, entre forças repetidas e cansadas, outras apenas fechadas e cansativas, outras modernas, pois, mas em busca de... Godot. Uns em perda e sujeição severa à mãe Europa; outros aguardando no taxi, sempre atentos, a melhor oferta de poder, a preço de saldo e alguma influencia.
Neste quadro, o tal projecto se propunha. Mas mº cedo se começou a perceber que, uma vez mais, o q era, não seria bem assim; e o q seria, afinal, não era. Generosas e incautas gentes - não se revendo em nenhuma força existente - deram a pureza do seu acreditar e investiram na novidade para atingirem uma consciência e um ideal. Mas o discurso perdera a frescura, a genuinidade, o rumo arrebatador e a propria matéria.
De tolerancia em tolerância, breve, quase todos se aperceberam do fim à vista. E no fim do 1º acto, os mais atentos logo debandaram. Denunciando q o rei ia nu, ou perto disso. A maior parte dos proprios fundadores acabariam por abandonar o projecto politico sem norte nem futuro.
Aquela casa ficara confusa e de leitura muito tergiversa. E agora, então - independentemente de tudo q venha a suceder - de descalabro em descalabro, face a um sinistro e patente excesso de "bourbon"... ou morre, de morte natural, ou retorna à iniciativa avulsa de q começou, ou colapsa, afogado em tão repulsiva violência e sordidez.
Se algum houve, não é agora, confessemos, q se perderá grande ideário. Ite missa est - Pim.
Conclusão - Raios partam a Lina Wertmuller e as suas tramas esquisitas, sempre ironicamente enviezadas e surdamente pedagogicas...
Lá teremos de agarrar na trouxa... e continuar em busca de Graal.

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