quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Pobres Banqueiros

Noticias frescas.
O Tribunal da Relação de Lisboa (TRL) rejeitou os recursos de Jardim Gonçalves, Filipe Pinhal e António Rodrigues no processo-crime do caso BCP, mantendo as condenações da primeira instância, disse esta quarta-feira à agência Lusa fonte do TRL.
Ora bem, andaremos a abrir os olhos? Calma. O divino Espírito Santo anda à solta, nunca esquecer.
"Foram julgados não providos todos os recursos apresentados pelos recorrentes, mantendo-se a decisão da primeira instância criminal", avançou a fonte. Portanto, Jorge Jardim Gonçalves, Filipe Pinhal e António Rodrigues terão de acatar a decisão do colectivo de juízes das Varas Criminais de Lisboa que os condenara pelo crime de manipulação de mercado.
Ora o fundador do Banco Comercial Português, Jardim Gonçalves, foi condenado no início de Maio a uma pena de dois anos de prisão; que, assim, por o recurso ter sido negado, só fica suspensa mediante o pagamento de 600 mil euros. Para ele, aqui para nós, tal montante deve ser à volta de um mês da reforma faraónica que a si mesmo atribuiu e que aufere ainda do referido cujo Millennium bcp.
Quanto aos restantes arguidos, todos ex-administradores do BCP, houve decisões diferentes: enquanto Filipe Pinhal e António Rodrigues também foram condenados a penas de prisão de dois anos e a indemnizações de 300 mil euros cada um, - portanto estes também terão de andar a chicharro com esparguete durante um mês e pronto... - já Christopher de Beck foi absolvido de todas as acusações. E os quatro foram absolvidos da prática do crime de falsificação de documentos.
Ora bem, eu não dizia? - afinal... tudo bons rapazes.
A decisão do colectivo de três juízes que julgou o processo-crime nas Varas Criminais de Lisboa no âmbito do chamado caso BCP foi tomada por maioria. O que quer dizer que algum dos juízes, mesmo assim, achou que os pobres banqueiros mereciam ter visto o seu recurso satisfeito.
Aliás, eles ainda têm mais recursos a activar, Supremo, Constitucional, etc
Agora o mais dramático. O tribunal condenou ainda os três arguidos considerados culpados a penas acessórias, que passam pelo impedimento de exercerem cargos de administração ou direcção em empresas ou instituições financeiras durante quatro anos.
Eu pessoalmente, que sou e serei sempre um coração condoído e um espírito esmoler, estava tencionar convidá-los para gerirem as minhas compras de talho, peixaria, etc. E a comprar também uns bolinhos caseiros às manas Espírito Santas. Mas bolos - o médico proibiu-me. E aos outros assim impedidos, já não posso contrata-los.
 Amigos do peito! Uma chatice.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Que achas disto tudo, Zeca?

Lembro bem. Morreu faz hoje anos - 23 de Fevereiro - o Zeca. 
Tinha eu estado na véspera - ele já sem visitas - no Hospital de Setúbal. Com a Zélia, o Samuel e mais amigos. Saber dele. A coisa estava iminente. 
No dia seguinte a esperada noticia. Mas sempre violenta - o Zeca tinha morrido! 
Na falta de um pai,...- já havia tantos anos...- ele era, para mim, uma espécie tutelar de progenitor, conselheiro e mentor cultural. 
Foi-o para a minha geração e muitas outras. Com o privilégio maior e acrescido de eu ter compartilhado palco com ele e de o ter acompanhado; em dezenas, talvez centenas de vezes. 
Um exemplo sempre, o Zeca; na dedicação, humildade e na qualidade imensa que todos lhe reconhecíamos. Sentia por ele camaradagem; mas também respeito, quase reverencia.
Quando o ajudava a vestir o pulover para o ultimo (e único!...) Coliseu, parou um momento, olhou para mim com aqueles olhinhos pequenos por trás das lentes, sempre meio irónicos, e disse: 

- "é pá hoje fazia-me falta o teu boieiro!"
Queria ele dizer talvez, a minha força, o meu sopro, a minha saúde, a minha juventude...na altura.
No fim - na multidão que saltou para o palco festejando o teu fim da festa- não me procurem no celebre programa na tv. Fiquei na minha cadeira. Sentado.
Sim, também eu sabia que era o ultimo sopro activo de ti. Uma parte do fim de uma era bonita e boa. E chorei devagar, para mim mesmo. - Que é o lugar para onde devem chorar as pessoas que sentem por dentro o que tantos exibem como emblema.
E a musica portuguesa, pouco depois, ficava de luto. E eu também. Perdia neste dia um amigo, um exemplo e uma opinião conselheira, critica quando era preciso.
Portugal perdia opinião, bondade, genialidade, criatividade, pensamento e alternativa. E os palcos ficaram mais tristes sem ti, Zeca. E nós sem mais estórias das tuas distracções e frases lapidares. 

E sem o teu exemplo... a nossa geração pulverizou-se em cartas individuais, escolhas diversas e discípulos, todos disparantes em mil sentidos.
Hoje tudo mudou. Ou, se calhar, na essência, as questões são as mesmas...
Passo pela memória e estás ainda vivo.
Por isso, pergunto-te quase todos os dias, ainda hoje: 

-"Oh Zeca então e isto agora? O que pensas tu destes gajos? O q achas tu que um gajo faça?"
E escuto atentamente o que ainda me tenhas para dizer.
Por isso para mim, tu vives sempre. E eu escuto-te.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

o sadismo dos tempos

Pois; neste dia... é natural q os namorados estejam confusos!. 
O folclore aveludado e cor de rosa de um pseudo bdsm, uma vez mais, volta a atacar. À escala planetária com grandes meios publicitários. Esses sim, é caso para dizer, flagelando espíritos menos avisados e iniciaticamente inocentes. 
Depois do soft core das várias Emanuelles abúlicas e vácuas de volição e tesão própria; depois do fracasso, - insultuoso ao livro de Pauline Reage - que foi a versão filme de Just Jaekin da Historia de "O"; depois do semi conseguido "Secretary" e da mais audaz abordagem n' "A pianista" agora somos bombardeados com as "50 sombras de cinzento". Dentro do género.
Detesto campanhas massivas de opinião. Mudo logo para o passeio do outro lado da rua. Querem obrigar-me; portanto, não obrigado. Não vi, nem vou ver; nem, - a avaliar pela opinião de gentes que muito prezo - vale a pena ver. 
Aliás adivinha-se. A industria dos filmes nunca abordaria crua e seriamente tal matéria, nunca a aprofundaria. A industria quer números, bilheteira, milhões - não verdade. Os produtores querem isso sim, retorno. Há q seduzir o pagode dando a ilusão de chocar, mas a moral e os tabus ficam incólumes. É caso, de novo, para dizer :- ninguém "se magoa" e ganham todos com isso. Até as cabeças de inocentes e iniciantes fantasistas, fabricando insónias de ilusão e turbamento. Ah, e as lojas de gadgets mais ou menos íntimos. Essas ganham de certeza.
Mas este tipo de boom ocasional persiste em desviar o olhar para as fímbrias suavizantes e edulcorantes do Sm, nunca para o cerne real. Está previsto e é dos livros. Fica-se na penumbra do mistério e sem ir ao fundo das questões. Aguarela envolta em bruma e planos elegantes.
Depois da hábil e bem conduzida reabilitação publica e mediática da homossexualidade em toda a parte, - de forma a todos a considerarmos já uma realidade normal, - decerto q o ultimo tabu das artes do amor merecia mais seriedade na abordagem. 
Assim, fica cinzento mesmo. Quem vê por curiosidade nem aprende o que é sm, nem sacia duvidas. Safe Sane & Consensual? Folclore puro; como os romances de Corin Tellado. Talvez com uma pitada de pimenta, bem aveludada, para cativar incautos. 
Os namorados de facto, bombardeados de adrenalinas e endorfinas, devem andar confusos. 
Uma vez, ainda professor de Liceu em Lisboa, procurava por um aluno e, não o encontrando, lembrei-me duma aluna q julgava ser sua namorada, pois ainda de manhã os tinha visto em grandes e holywoodescos beijos, enrolados pelas escadas do velho Maria Amália. 
Era urgente - precisava de falar com ele. E aí lembrei-me, quando a vi, de o avisar para vir falar comigo.
Chegando ao pé dela, porem, retorquiu-me:
- "Oh sotôr, sim, fomos namorados, mas isso foi no outro intervalo!"
...
Portanto. Namorar hoje tornou-se um acto de novas durações, significados, semânticas frágeis e trocativas emoções. 
Sobra-me a memória plena, ainda viva felizmente, de um tempo em q o secretismo e a emoção vestiam roupas de gloria e arrepio. 
Mas noutro registo; com outra amarração, definição, exigência e seriedade.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Carnavais

O Carnaval das terras, o filme erótico "as 50 sombras de Grey" e a maquilhagem da Uma Thurman tomaram hoje quase meia hora, ao todo, no jornal da noite!
Já ontem o grande enigma era saber se a mulher tinha feito cirurgia ou se era make up! E anteontem tb já tinha visto avançar, noutro jornal, a mesma angustiante duvida. Eu, claro, não dormi - precisava saber...
Estas coisas preocupam-me.
E agora, assim, de repente, este romance bdsm está a converter todas as jovens do planeta em potenciais noviças. Ora um homem sensível e convicto como eu, bom, meu Deus, eu fico perturbado. Com tanta neo submissa implorativa de novidade, ninguém aguenta. De repente um best seller 34ª edição. Chiça. Os chicotes vão esgotar no quiosque do sr Hermenegildo! Peço ajuda.
Para que Carnaval ir? Para o de Ovar? Loulé? Estarreja? Torres Vedras? 
Inquieta-me esta indecisão. 
Já não sei para onde me virar, com tanta novidade importantíssima. Se o make up - sim, afinal era só make up! - da actriz loira; se o corropio de corsos e marafonas; se o fluxo espantoso de candidatas a submissas a nascerem das pedras. 
E agora o que é que eu faço?
Ah Carnaval da fantasia efémera e tão fáctua!
Ah insustentável leveza, tão breve e tão simplista; tão digna de telejornal.
O grande Carnaval está dentro de nós mesmos, suponho.
Neste sistema que fala de coisas intimas, absolutas e importantes com leviandade e ligeireza; e de coisas levianas e ligeiras com tão absoluta e intima importância!

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Palavras de Pe Antonio Vieira

Exactamente assim.
Da ilusória justiça e do poder do mando. 
Da calunia e da certeza.
Da desigualdade dos homens.
Dos direitos e deveres.
Do respeito e do abuso.
Dos pequenos e dos grandes. 
Do passado e do presente.
Ele sabia.
Por isso mesmo aqui vos trago este breve reflectir de um homem bem à frente do seu tempo.

"SERMÃO DO BOM LADRÃO" 
de PADRE ANTÓNIO VIEIRA
"Não são ladrões apenas os que cortam as bolsas.
Os ladrões que mais merecem este título são aqueles a quem os Reis encomendam os exércitos e as legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais, pela manha ou pela força, roubam e despojam os povos.
Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam correndo risco, estes furtam sem temor nem perigo.
Os outros, se furtam, são enforcados; mas estes furtam e enforcam."
(Padre António Vieira)