Lembro bem. Morreu faz hoje anos - 23 de Fevereiro - o Zeca.
Tinha eu estado na véspera - ele já sem visitas - no Hospital de Setúbal. Com a Zélia, o Samuel e mais amigos. Saber dele. A coisa estava iminente.
No dia seguinte a esperada noticia. Mas sempre violenta - o Zeca tinha morrido!
Na falta de um pai,...- já havia tantos anos...- ele era, para mim, uma espécie tutelar de progenitor, conselheiro e mentor cultural.
Foi-o para a minha geração e muitas outras. Com o privilégio maior e acrescido de eu ter compartilhado palco com ele e de o ter acompanhado; em dezenas, talvez centenas de vezes.
Um exemplo sempre, o Zeca; na dedicação, humildade e na qualidade imensa que todos lhe reconhecíamos. Sentia por ele camaradagem; mas também respeito, quase reverencia.
Quando o ajudava a vestir o pulover para o ultimo (e único!...) Coliseu, parou um momento, olhou para mim com aqueles olhinhos pequenos por trás das lentes, sempre meio irónicos, e disse:
- "é pá hoje fazia-me falta o teu boieiro!"
Queria ele dizer talvez, a minha força, o meu sopro, a minha saúde, a minha juventude...na altura.
No fim - na multidão que saltou para o palco festejando o teu fim da festa- não me procurem no celebre programa na tv. Fiquei na minha cadeira. Sentado.
Sim, também eu sabia que era o ultimo sopro activo de ti. Uma parte do fim de uma era bonita e boa. E chorei devagar, para mim mesmo. - Que é o lugar para onde devem chorar as pessoas que sentem por dentro o que tantos exibem como emblema.
E a musica portuguesa, pouco depois, ficava de luto. E eu também. Perdia neste dia um amigo, um exemplo e uma opinião conselheira, critica quando era preciso.
Portugal perdia opinião, bondade, genialidade, criatividade, pensamento e alternativa. E os palcos ficaram mais tristes sem ti, Zeca. E nós sem mais estórias das tuas distracções e frases lapidares.
E sem o teu exemplo... a nossa geração pulverizou-se em cartas individuais, escolhas diversas e discípulos, todos disparantes em mil sentidos.
Hoje tudo mudou. Ou, se calhar, na essência, as questões são as mesmas...
Passo pela memória e estás ainda vivo.
Por isso, pergunto-te quase todos os dias, ainda hoje:
-"Oh Zeca então e isto agora? O que pensas tu destes gajos? O q achas tu que um gajo faça?"
E escuto atentamente o que ainda me tenhas para dizer.
Por isso para mim, tu vives sempre. E eu escuto-te.
Grande homenagem ao Grande Zeca prestada de forma singela mas simultaneamente profundamente emotiva.Isto é Pedro Barroso no seu melhor.
ResponderExcluirO Zeca...
ResponderExcluirCanta por aí, no vento que há-de soprar em tantos, tantos de nós.
O Zeca...
ResponderExcluirCanta por aí, no vento que há-de soprar em tantos, tantos de nós.
Continua por aí, com a mesma actualidade e a mesma força de antes.
ResponderExcluirAinda hoje me fez companhia de Lisboa às Caldas ... e cada vez sabe melhor ouvir a voz, a música e as palavras.
Será sempre bom ouvir o Zeca, mas o Pedro também tem de pensar muito por si próprio como o tem feito e cada vez mais, para que um dia seja mais facil nós fazermos essa mesma pergunta.
ResponderExcluir-"Oh Pedro então e isto agora? O que pensas tu destes gajos? O q achas tu que um gajo faça?"
Um grande abraço Pedro Barroso e que essa inspiração seja para sempre ouvida por muitos homens e mulheres deste Portugal.
Obrigado
Vitor Pedrosa
Acho que ele ficaria muito feliz ao ver que as suas palavras e as suas musicas estão presentes em todos os momentos em que o povo ousa falar.
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