O homem bocejou, depois de almoço. Parecia alheio aos estudos
e sondagens de popularidade.
Os assessores, preocupados, reuniam de urgência. Após tão
publica e manifesta descrença e tão arrasadora percentagem nos jornais e televisão,
impunha-se uma contra reacção urgente. Uma injecção rápida e eficaz de
simpatia. Sim, era preciso fazer qualquer coisa.
O assessor 7, amaneirado e gesticulante, garantiu que o
homem precisava era de um "re-styling urgente. Talvez um novo alfaiate, uma nova
escolha de gravatas e peúgas. Talvez uma visita ao Eduardo Beauté. Parecia um
manequim da Rua dos Fanqueiros, daquelas lojas antigas e escuras que ainda por
lá resistem. Talvez ginásio, sauna, quem sabe?" - e calou-se arfando.
O assessor 8, insurgiu-se dizendo que, para polémica com alfaiates,
já bem bastava a comenda do Infante atribuída ao da D Maria para ter arranjado
sarilhos. E propôs uma decisão que agradasse a todos os cidadãos. Uma coisa
altamente popular, consensual.
- Mas o quê ?,
perguntavam-se todos. E entre-olhavam-se, derrotados de ideias, cabisbaixos.
Tinham sido contratados por amizades pessoais, posição nas jotas e em agências
ganhadoras e fabricadoras de êxitos. Gente bem paga, todos; mas pouco
habituados ao insucesso e a ter de promover produtos estragados e sem graça.
O Assessor 21 lembrou os santos populares - que tal o Presidente ir a Alfama, muito descontraído comer sardinhas
com o povo? O assessor 5 contestou de imediato, pois "tal descontracção nunca
fizera parte da imagem presidencial e as experiências de comer em público
sempre tinham corrido mal, desde o celebre bolo-rei que teimava em sair pelos
cantos da boca e, além disso, o cheiro a sardinhas poderia incomodar a
comitiva". E fez-se um silencio...
O assessor 4 interrompeu então - Umas férias nas Maldivas era uma coisa gira, sempre divertida e popular;
dava um ar presidencial, moderno. Logo o assessor 23 deu um salto. Nem
pensar! Para depois nos acusarem do mesmo q acusámos o outro, quando andou a
cavalgar tartarugas gigantes? O país, de facto, estava em contenção - era uma manifestação
de riqueza que ainda cairia pior.
- Um torneio de golfe de
iniciativa presidencial, talvez? - Aventou o A25. Mas toda a gente sabe que
o presidente não gosta de golfe, não acerta na bola, nem tem swing que se
conheça, argumentou o A12, sempre contrariado. E seria uma iniciativa
considerada elitista. Chato.
Irritado com tudo isto o A 13, - melómano furioso nas horas
vagas da agência de imagem que o mantinha em out sourcing…- lançou a ideia de uma Nova Orquestra de patrocínio directo da presidência.
Olharam todos de imediato para ele com um tal furor no olhar, que prontamente
retirou a ideia, pois a Cultura, sabia-se, era uma área tabu na sensibilidade
do Presidente. E o nome Nova a aplicar para a Orquestra também não soaria nada
bem, depois do improvisado e apressado nome arranjado para o Banco Novo.
- Uma visita de Estado.
Falou baixinho, sensato e sabedor. Era o mais avisado e mais velho assessor – o
A 16 – que, como de costume, lançava a ideia. Todos espetaram as orelhas. Podia
talvez ser. A18 entusiasmou-se e avançou logo:
- Sim, uma coisa
grandiosa e de respeito. USA? Rússia? Inglaterra? Ir à Alemanha protestar a
nossa velha história e heroísmo, para ver se nos aliviavam a carga fiscal? Os
outros entreolhavam-se realistas. Quem iria querer receber o senhor assim de
repente? Nah. E a coisa podia ser entendida como intromissão na política do
Governo. - China? Lembrou o A19. Muito longe… Comem gatos e cães… a D Maria
poderia intrometer-se e ser inconveniente…- disse A22.
- Talvez então a Índia?
Visitar Goa, Damão e Diu, para apaziguar as feridas? Alvitrou o A20. Pois isso era genial mas…Seria polémico. O “outro”
já lá tinha andado a passear de elefante! Lembrou o A15, sempre profundo
conhecedor dos assuntos do Oriente.
Resultado. O melhor que se achou foi a Bulgária. E a Roménia.
Agora, havia que convencer o Presidente da forte e urgente importância de
visitar estes países, talvez no contexto da crise Grega. Enquadra-la como acção de
Estado num âmbito mais vasto de fraternidade comunitária, como polarizador de
uma amizade antiga. Claro que “se teriam
de lembrar de estudar melhor tal amizade histórica, pois não havia alianças
conhecidas, nem número de emigrantes significativo. Nem grande oferta
empresarial, ao que parece. Uma bulgaridade…” Lembrou, sempre irónico, o
Assessor 6, que estava sem falar há duas horas.
- Valia mais estar
calado, sinceramente. Disse o A21. – OK, Bom quem vai falar com o homem? Escapou-lhe a protocolar
incorrecção, no que foi de imediato admoestado pelo A27.
- Eu vou. Ficaram
todos a admirar a coragem do A18. Sempre ele. E lá foi. Corajoso.
A capacidade argumentativa do colaborador era reconhecida
entre todos. A função não poderia ficar melhor entregue. E foi.
- Bulgária? Ainda protestou
o Sr. Presidente, vagamente incomodado com tão estranha terra e sua indecifrável
língua.
- Repare Sr. Presidente que a nossa
ligação é de longo alcance e de muito peso. Argumentou o A18.
- Serio? Você acha
mesmo?! De peso?!– Ainda tentou
ripostar…
- Claro que é sr
Presidente. Repare só que o actual recordista nacional do peso não é mais que
um gigante búlgaro que se naturalizou português… quer uma justificação com mais
peso que isto? Olhe que o homem é português mas chama-se Tsanko Arnaudov!
- Oh… não me diga,
nesse caso vou falar com a Maria, mas acho que é urgente ir à Bulgária
agradecer, e você, concorda?
- Sim com certeza, óptima ideia, Sr. Presidente. Excelente escolha.
Saiu esfregando as mãos. Sempre queria ver as sondagens
daqui a umas semanas, depois de visita tão importante, tão histórica, tão
arrojada e tão destemida. E tão apropriada no quadro da crise do Euro, da problemática
ecológica e do peso da ameaça do Islamismo radical; e sobretudo da ameaça de
degelo das calotes polares. Grande jogada politica.
Um acto de coragem invulgar, é o que é. Vão lá agora
desmentir! Sondagens garantidas.
Chegas-te a saber a opinião do A69?
ResponderExcluirah esse ...perdeu-se em tradução...uma bulgaridade!
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